Este artigo foi publicado no The Science Times a 14 de setembro de 2023 por David Thompson.

Artigo original no Science Times

Mais pessoas do que nunca correm o risco de sofrer um acidente vascular cerebral, com dados da Organização Mundial de Saúde que mostram que uma em cada quatro pessoas terá um acidente vascular cerebral durante a vida, um aumento de 50% nos últimos 17 anos. O AVC é hoje a principal causa de incapacidade em todo o mundo e a segunda principal causa de morte. Por outro lado, cerca de 2,8 milhões de pessoas vivem com esclerose múltipla em todo o mundo, e esta doença autoimune leva a vários sintomas neuromusculares, incluindo problemas de visão, fraqueza nos membros, fala arrastada e perda de equilíbrio. Ambas as condições podem afetar gravemente a qualidade de vida dos doentes e resultar na debilitação permanente da sua mobilidade.

Para ajudar na recuperação de doentes com AVC e esclerose múltipla, a g.tec medical engineering, uma empresa de tecnologia de interface cérebro-computador (BCI) com sede na Áustria, desenvolveu o programa de tratamento recoveriX em 2014. O recoveriX utiliza tecnologia de interface cérebro-computador para estimular eletricamente os pacientes ‘membros e treiná-los para se moverem novamente após serem prejudicados por condições neurológicas. O sistema consiste num computador pessoal com o monitor à frente do paciente, que utiliza um auricular EEG de 16 canais para ler as suas ondas cerebrais. O monitor apresenta as mãos do paciente em perspectiva de primeira pessoa ou os pés em perspectiva de espelho. Os elétrodos estão ligados aos membros do paciente, proporcionando estimulação elétrica aos músculos e provocando dorsiflexão das articulações.

Desde o desenvolvimento do recoveriX, a g.tec expandiu a disponibilidade do tratamento para uma dúzia de países em todo o mundo através de um modelo de franchising para centros recoveriX dedicados, estando o sistema também disponível em hospitais e centros de reabilitação nesses países.

Na Áustria, mercado doméstico da g.tec, a recoveriX trabalha com vários parceiros franchisados, disponibilizando o tratamento em quase todas as grandes cidades do país. Na vizinha Alemanha, a g.tec assinou recentemente acordos de franchising com 4 parceiros, que irão estabelecer cerca de 25 centros de recuperação no país, e está à procura de mais parceiros para satisfazer a procura na Alemanha. O recoveriX está também disponível em muitos outros países europeus, como Itália, Países Baixos, Finlândia, Espanha, Portugal, Croácia e Eslovénia.

Na América do Norte, o recoveriX está disponível no Canadá e no México, enquanto se aguarda a aprovação para os EUA. Na Ásia-Pacífico, está disponível em Israel, Tailândia, Hong Kong e tem potenciais parceiros no Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Em África, o tratamento está disponível na Nigéria e na África do Sul.

g.tec conduziu três estudos clínicos com o recoveriX, sendo os dois primeiros direcionados para o tratamento dos membros superiores e inferiores de pessoas que sofreram um acidente vascular cerebral. Os estudos demonstraram que o recoveriX ajudou os doentes a recuperar as capacidades motoras e reduziu a espasticidade nos membros. Também observaram outras melhorias, incluindo a fala, a memória e o controlo da bexiga. O terceiro estudo clínico foi sobre a EM, que também mostrou uma melhoria nas capacidades motoras, equilíbrio, fala, concentração, fadiga e outras áreas. Estas descobertas são especialmente importantes, uma vez que o tratamento convencional para a EM é a medicação, que apenas pode atrasar a progressão da doença.

Christoph Guger, fundador e CEO da g.tec, estava a estudar sistemas de interface cérebro-computador na Universidade de Tecnologia de Graz para o seu doutoramento, quando recebeu pedidos para adquirir o sistema BCI que tinha desenvolvido. Imediatamente após a sua graduação, ele e o Dr. Günter Edlinger fundaram a g.tec em 1999, tendo o primeiro pedido sido proveniente de uma universidade no Reino Unido, seguido por um cliente na Coreia do Sul.

No futuro, a g.tec planeia realizar estudos clínicos sobre outras doenças neurológicas, como a doença de Parkinson e a dor crónica. Planeia também aprofundar as aplicações baseadas no AVC, para descobrir como a intervenção com o recoveriX pode ajudar em diferentes estados de AVC.

“Estamos entusiasmados com o facto de o recoveriX estar agora disponível em mais países do mundo e planeamos adicionar ainda mais para aumentar o nosso alcance”, diz Guger. “Condições neurológicas como o acidente vascular cerebral e a esclerose múltipla podem ter efeitos drásticos na qualidade de vida das pessoas, e esperamos que mais pessoas possam beneficiar da recuperação melhorada proporcionada por tratamentos baseados em BCI, como o recoveriX, que, ao contrário da medicação, não tem quaisquer efeitos secundários negativos.”